Kiss, 02 anos! A dor de um Bombeiro!

O que um bombeiro pode dizer na data em que a maior tragédia da história do Rio Grande se abate sobre nós... pouco... , muito pouco...

A cada dia que passa, desde o fatídico 27 de Janeiro de 2013, temos nos rearticulado... temos treinado exaustivamente... temos combatido incêndios, temos realizado salvamentos, temos auxiliado no parto de pequenos novos gauchinhos e gauchinhas,... enfim, temos feito TUDO e TODO o possível para melhor “cuidar” de nossa gente...mas a angústia não desaparece..., sequer esmaece...

Não há bombeiro que não sofra com a tragédia... primeiro prestamos auxílio...somos bravos,...técnicos...arrojados,...valentes....depois, quando a noite cai e estamos de volta ao aconchego do lar...com nossas esposas e maridos...filhos e filhas.... sofremos e...choramos...

Sim, choramos pela família da vítima,...pela criança afogada...pelo pai desaparecido...pela mãe acidentada... diariamente nos colocamos no lugar de pais, mães e de filhos e, sozinhos, talvez até escondidos em um canto do quartel,...choramos...e choramos alto... como só os homens valentes sabem fazer!

Vivemos uma realidade muito diferente do cinema... Temos poucos, mas BRAVOS, homens e mulheres que dedicam suas vidas e almas ao bem-estar da gente gaúcha!

Não medimos esforços...nem mesmo sabemos fazer isso... pois, não importa o tamanho do perigo, somos NÓS, o Corpo de Bombeiros Militar, que PRECISAMOS dar a RESPOSTA FINAL a qualquer que seja a emergência... não podemos falhar.... nossa falha é sinônimo de MORTE!

Imagine você o tamanho da responsabilidade sobre aquele jovem, entre 20 e 30 anos, que ingressa no Corpo de Bombeiros Militar... não é um trabalho para meninos ou meninas... é um trabalho que envolve dureza de caráter sem que lhes falte sensibilidade...é um trabalho para Homens e Mulheres...com H e M maiúsculos ( e não importa a idade que tenham)!

Na esteira da tragédia da Kiss o Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul “estremeceu”...aliás,...o “Corpo de Bombeiros do Brasil estremeceu”... alteramos leis de prevenção... notificamos... interditamos... até mesmo nos “separamos da Brigada Militar”... enfim...fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.... mas não é o suficiente!

O Corpo de Bombeiros Militar PRECISA ser visto como uma Instituição de Estado,... é preciso que o gestor público maior vislumbre o tamanho da tragédia que pode se abater sobre uma grande metrópole ou sobre uma pequena comunidade no caso de “fechamento” de um quartel por insuficiência de militares (falta de efetivos) ou de “horas-extra” ( que, para nós, servem para manter os quartéis abertos)... gaúchos e gaúchas entram em situação de risco imediato a cada vez que isso ocorre... pessoas podem perecer...

Não pense você, familiar em sofrimento, que estas palavras soem oportunistas em um momento em que a discussão sobre o corte de “horas–extras” do Corpo de Bombeiros esteja tão em evidência. Tampouco este texto se presta a afrontar o Governo do Estado como uma reivindicação do Corpo de Bombeiros Militar do RS... não se trata de nada disso... é apenas a manifestação da realidade de nossa Instituição!

Nessa data de 27 de Janeiro de 2015 nossa palavra é, exclusivamente, para os familiares das vítimas da tragédia da boate Kiss:

Por mais que nos "crucifiquem", choramos juntos!

Somos seus amigos e irmãos e, se mais não pudemos fazer, é porque nossas condições chegaram ao limite do possível... fizemos TUDO,...absolutamente TUDO que estava ao nosso alcance na cidade de Santa Maria... nossos recursos estavam esgotados...

Sabemos que há acusações relativas à fragilidade do sistema de prevenção contra incêndios naquele local... sobre uma série de questões pertinentes que poderiam ter evitado a tragédia (que envolvem a posição do Ministério Público e da Prefeitura local)... mas não há justificativa que amaine a perda sofrida... e, por isso, novamente, choramos juntos!

Tenha a certeza, você, cidadão, que não há bombeiro no mundo que hesite em trocar a vida dele pela sua... faz parte de nossa cultura...faz parte de nosso juramento... e sempre que um bombeiro subsiste a uma tragédia e que “perde” uma vítima, acredite, o dano é irreparável...

Faremos do Corpo de Bombeiros Militar do RS o MELHOR DO PAÍS... CUSTE O QUE CUSTAR!

É o mínimo que podemos fazer em memória dos 242 jovens que pereceram vítimas da tragédia da Kiss, e de tantos outros que até hoje lutam contra as sequelas daquele sinistro evento.

Irmanados, desejamos paz às famílias enlutadas e, na mesma corrente, exortamos a população do Rio Grande a prestar PLENO APOIO AO SEU CORPO DE BOMBEIROS MILITAR, o ÚLTIMO BASTIÃO da segurança pública de nosso Estado!